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Televisão: um perigo inofensivo?

Trataremos neste artigo, sobre a questão de como a mídia (especificamente a televisão), tem uma grande influência na formação ética de nosso país, e por isso, necessita do nosso “eticida”, uma espécie de veneno para acabar com a falta de ética e moral nesse meio de comunicação.

A televisão é mágica! Sim, pura mágica! É surpreendente como ao ligá-la o tempo passa rapidamente. Olhamos no relógio, e nada mais que duas horas já se passaram. Assistimos a um programa que nos interessa. A novela “das seis” começa seguida pela “das sete”, e termina com a “das oito”. Uma extraordinária trilogia que sucedem mais de cinco horas de programação. É exatamente esta a média que o brasileiro passa em frente da telinha.

Sabendo que um ano tem exatamente 8.760 horas, o brasileiro fica em média 1860 horas em frente da televisão. Isto quer dizer que durante os 360 dias do ano, o brasileiro gasta em média 80 dias apenas assistindo TV. Fazendo uma projeção ainda maior, se uma pessoa com expectativa de vida de 80 anos assistisse em média as cinco horas de programação ao dia, ao longo de sua vida, ela terá perdido cerca de 27 anos apenas assistindo a TV. Incrível, não acha? A televisão é ou não é mágica?

Entretanto, o que mais nos preocupa não é somente o tempo em que as pessoas passam em frente à TV, como também o tipo de informação que essa pessoa recebe. Um meio de comunicação que tem uma influência tão grande em nossas vidas, não tem apenas a função de divertir e distrair, mas também de formar opiniões, pensamentos e caráter. Essa é a grande discussão levantada em nossos tempos: a TV é ou não uma forma de manipulação em massa? Afirmo categoricamente: - Sim!
Abaixo discutiremos alguns pontos de como a televisão afeta nossa vida:

1. Afeta nossa capacidade de se auto-afirmar

Com tantas informações e opiniões bombardeadas em nossas mentes, uma reação natural do nosso pensamento é aceitar tudo aquilo que vimos ou ouvimos como padrão ou verdadeiro. Segundo o filósofo e cientista Jean Piaget, “o homem é fruto das interações do meio em que vive”. Piaget explica esta frase magistralmente no que ele chama de “teoria do construtivismo”, onde diz que o homem através do jogo e da imitação, forma sua mente, por meio da assimilação e acomodação sensório-motora das informações.

Logo, as informações que são acomodadas em nossa mente através da televisão, impede a nossa capacidade de se auto-afirmar ou assumir uma personalidade, pensamento ou opinião. Com isso, temos cidadãos altamente influenciáveis, aceitando tudo aquilo que lhes é apresentado. A ética, moral e a cidadania ficam em último plano. As pessoas foram “reprogramadas”.

2. Afeta a liberdade de agir

A liberdade de agir está intimamente ligada com a capacidade de auto-determinação (ou auto-afirmação). Antônio Jorge Pereira Júnior, mestre e doutor em direito formado pela USP, defende esta tese: “Para um comportamento que se encaixe dentro dos padrões da dignidade humana, é necessário que a pessoa seja bem instruída e estimulada a agir bem.” Esse problema se agrava ainda mais, quando crianças são submetidas a ele: “A criança e o adolescente estão em estágio de evolução, passível de sofrer interferências de modo mais proeminente que uma pessoa adulta. Necessitam de estímulos e informações que potencializem o melhor uso de sua liberdade. Não dispõem de maturidade suficiente para decidir por si sós como agir bem [...]”

Chegamos a conclusão de que este problema está profundamente ralacionado com o abordado anteriormente: entendemos que uma pessoa que não tem capacidade de se auto-afirmar, que é moldada segunda as interações daquilo que assiste, está limitada unicamente no que a mídia lhe fornece: sem qualquer espontaneidade ou vontade própria, a liberdade de agir está comprometida e limitada dentro daquilo que a mídia impõe.

3. Afeta a liberdade do pensamento

Segundo Descartes (1596 – 1650), filósofo de grande importância nos estudos do pensamento, “a essência do homem é pensar”. O pensamento é a essência da nossa existência racional: “Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente".

O pensamento está intimamente ligado com nosso intelecto, na resolução de problemas, na expressão da criatividade, na aprendizagem, na formação de conceitos, no raciocínio e na imaginação. Logo, podemos afirmar que o homem está perdendo sua essência: o pensamento humano está limitado à televisão.
As informações chegam até nossa mente já lapidadas e formadas, sem precisarmos raciocinar ou refletir sobre determinado assunto. Isto provoca um imenso conformismo, acomodado com as opiniões já prontas, o pensamento se torna um escravo, esquecido em nossas mentes. O homem que pensa, que duvida, que afirma, que ignora, e muito mais descrito por Descartes, torna-se o homem escravo de pensamento, condicionado e manipulado ao consumo e a ao senso comum de ideias e posições.

Refletindo:

Diante desse debate chegamos a uma conclusão: A formação do caráter e personalidade de uma pessoa, está intimamente ligada com sua auto-afirmação, com sua liberdade de agir e pensar. Apartir do momento em que os meios de comunicação em massa atingem essa liberdade, nos tornamos escravos, “bonecos manipuláveis”. Esta sociedade sem ética ou moral, sem sequer uma gota de cidadania, foi moldada e formada de maneira muito lenta e perspicaz. Somos frutos, do meio em que vivemos.

Por mais que a mídia tente se defender com argumentos apelativos e falsos, como a “liberdade de expressão” (ou para os mais íntimos, liberdade de manipulação) expressão essa que é empregada de maneira errônea, ou ainda dizer que é apenas “a vida imitando a arte” (de fato, há muitas coisas que são imitadas) onde fica a realidade, o pensamento, a liberdade, a razão? Volto a dizer, a televisão é mágica!

Aos leitores deste blog, aplicamos em vocês uma pequena quantidade de nosso eticida. Espero que apartir de agora, imunizados contra a “mágica televisiva”, possamos formar cidadãos éticos, com opinião própria, a verdadeira liberdade de expressão, do pensamento, do agir e da auto-afirmação.

Brunno Caetano

Fontes:

- Dano moral causado por programação de TV ao público infanto-juvenil. Mecanismos de tutela judicial – de Antonio Jorge Pereira Jr.

- Teoria do Construtivismo – Jean Piaget.

1 comentários:

Crisis disse...

Excelente! Hoje saiu um caderno mais sobre a exploração da "Menina Maísa" Pelo Silvio Santos. Vale a pena procurar.
Abração
Rodrigo

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