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O blog sobre Ética e Cidadania

Entrevista com a professora Káthia Canizares

Káthia Alexandra Lara Canizares nasceu em Esmeraldas, interior do Equador. Ingressou no curso de Agronomia na VCE (Equador) após completar o Ensino Médio. Em 1995 mudou-se para o Brasil e cursou Agronomia na Unesp (Botucatu), além de Letras (Línguas portuguesa e inglesa) na Unifac (Botucatu) e no IMES (Língua espanhola). Publicou vários artigos, além do livro “Enxertia em Hortaliças” (publicado pela Editora Unesp) junto a outros autores. Atualmente está com 39 anos de idade, leciona Língua Portuguesa e Espanhola na ETEC “Dr. Domingos Minicucci Filho”, e, pretende fazer Mestrado de Letras na Universidade de São Paulo (USP).

Abaixo, sua opinião sobre ética e cidadania no contexto conteporâneo.

Mores Civitas - Ao seu modo de ver, o que é ética?

Kathia - Ética e o reconhecimento das nossas obrigações como seres sociais, cidadãos, mulheres, homens, filhos, mães, pais, esposos, amigos, vizinhos, profissionais e como todos e cada um dos papéis que desempenhamos em uma comunidade, executando ações que nos fazem bem sem prejudicar o próximo.

Mores Civitas - Como a senhora aplica a ética e a cidadania no seu dia-a-dia?

Kathia - O exercício da cidadania começa com o conhecimento dos nossos direitos civis e políticos. Dentro do possível, uso o direito que tenho a informação, educação, ir e vir, a saúde, ao livre arbítrio, ao voto etc. No meu dia-a-dia tento aprender a reconhecer meus deveres com a sociedade, a família e com Deus; analiso e medito sobre as diferentes situações; pratico naturalmente aquilo que faz parte dos meus valores e tento entender aquilo que não faz sentido. Muitas vezes, essas situações me levam a entrar em conflito, porem, quase sempre termino encontrando uma explicação para aquilo que foge dos valores que eu defendo.

Tenho uma frase que mentalizo sempre: "hoje tentarei exemplificar alguns valores éticos e morais para meus filhos, pois acredito que eles (ainda crianças) poderão fazer a diferença na sociedade do hoje e do amanha".

Como professora, penso muito em como educar e que ferramentas usar para passar conteúdos significativos; disponibilizo-me a aprender com eles; tento relacionar-me com o grupo valorizando o aluno individualmente e motivando o grupo continuamente, independentemente do nível social, orientação sexual e religiosa; evito discursar temas de cunho dogmático.

Mores Civitas - Como a senhora define o chamado "jeitinho brasileiro"? Acredita esta ser uma forma correta de agir?

Kathia - Há dois tipos de "jeitinho brasileiro". No primeiro, as coisas ligadas à questão publica não são levadas a sério, acha-se normal a política da injustiça, a falta de ética e de moral. Neste, primam os próprios interesses e há pouca consciência de grupo, ou seja, o cidadão pouco se importa com a comunidade e com a sociedade.

O outro tipo de "jeitinho" e aquele que caracteriza ao povo brasileiro: criativo, prático, solidário com a comunidade, atencioso com o próximo. Por exemplo, recorrer a esse "jeitinho" para minimizar a burocracia visando o beneficio de terceiros, sem prejudicar ninguém.

Mores Civitas - A ética e um dever do cidadão. Porem, nem sempre possuímos uma sociedade inteiramente ética. Por sua experiência no Equador e no Brasil, qual dos dois países acredita ter uma sociedade mais completa­ incluindo setor educacional, político, e, dentro da própria escola - em rela<;ao a esse tipo de comportamento?

Kathia - E muito dificil e ousado fazer uma comparação entre dois países completamente diferentes. No entanto, segundo uma pesquisa publicada em 2005 pela Folha de S.Paulo, sabre ética e sustentabilidade, tanto o Brasil quanta o Equador tiveram desempenho desfavorável, atribuindo este resultado a baixa qualidade da educação. Mesmo assim, o Brasil ficou acima da Colômbia e do Equador. Neste estudo, o nosso país perdeu para o Chile, o México, a Argentina e o Peru, e empatou com a Venezuela. Na pesquisa foram considerados os seguintes itens: numero de alunos matriculados em escolas primarias e secundarias, gastos com educação, índice de alfabetização e proporção de alunos por professores.

Mores Civitas - Ao seu modo de ver, a ética ainda esta presente nas relações aluno­ professor? A escola Industrial e diferenciada em relação a isto? Por quê?Kathia - Eu acredito que a ética começa pelo professor na relação aluno - professor - instituição. É ele que deverá nortear sua passagem pela instituição. Não é fácil priorizar os valores individuais (do professor) frente aos valores do coletivo, pois a instituição e composta por uma comunidade. é um caminho que cansa e desgasta, mesmo assim vale muito a pena, pois as pequenas conquistas do dia-a-dia proporcionam prazeres não mensuráveis.

Os alunos levarão um tempo para permitirem a entrada deste professor no seu mundo; porém uma vez autorizado, estarão sempre dispostos a colaborar com seu novo "mestre”. Ao mesmo tempo, também há alguns alunos, que por diferentes motivos, dificultam a interação e o desenvolvimento da empatia; mas, são precisamente estes os desafios permanentes para um professor apaixonado pela sua profissão.

A escola Industrial é diferenciada sim, porque permite a criação de um ambiente adequado para o estabelecimento da relação aluno-professor e porque valoriza o respeito como norteador da disciplina escolar. Ser ético é um ato de amor.

Mores Civitas - Uma vertente importante da ética e a profissional. Ela e respeitada no Brasil pelos professores das escolas publicas e particulares da mesma forma?Kathia - A escola pública está passando por uma crise que parece não ter fim. Mesmo assim, e possível deleitar-se com leituras sobre homens e mulheres que, junto a comunidade escolar, estão fazendo a diferença.

Para ser professor profissional deve-se ter um curso superior, de no mínimo três anos. Atualmente, esse profissional ingressa na escola publica com salários baixos, se comparados com outras profissões que também levam três anos para diplomar-se. Isso cria um clima de insatisfação salarial, que se somado a violência, indisciplina, falta de respeito e falta de reconhecimento da categoria, prejudica o desejo inicial, as vezes até romântico, de ser um educador.

Seria fácil criticar colegas que estão em situações bem diferentes da minha, mas isso seria leviano. Não gostaria de questionar os outros, pois essa não é a minha missão. O que realmente eu gostaria e de ter é a oportunidade de provar que e possível fazer a diferença.

Mores Civitas - A progressão continuada e o sistema de cotas, criados pelo Estado, são artifícios corretos em sua opinião?

Kathia - A progressão continuada, como é interpretada hoje, não resolve absolutamente nada. Alunos com dificuldade de aprendizagem deveriam ser tratados individualmente e contextualizados dentro das suas próprias necessidades; deveriam ser levantadas as causas do não aproveitamento escolar; as instituições deveriam contar com profissionais (psicó1ogos, trabalhadores sociais) habilitados para desenvolver metodologias de estudo especificas; cada caso deveria ser tratado como único. Pode ser que, às vezes, fazer de novo uma série escolar beneficie surpreendentemente um individuo. Já ouvi depoimentos de pessoas que acreditam que o fato de terem cursado novamente um ano escolar influenciou positivamente a sua vida (talvez aquele menino de 14 anos não estava pronto para enfrentar um colegial).

Quanto ao sistema de cotas, não acredito na questão do critério racial (cor). Seria melhor cotas por critérios sócio-econômicos. Mesmo assim, é muito dificil ser "justo" quando se fala em "cotas".

Todos temos direito a uma educação gratuita e de qualidade. Esse direito é plenamente exercido nos primeiros anos sem que haja um sistema de cotas; o que há são vagas disponíveis, solicitadas e preenchidas pela população. As famílias com maiores ingressos econômicos preferem as escolas particulares por' considerá-las melhores.

Em algumas escolas publicas, para ingressar no ensino médio, deve ser feita uma prova seletiva. Várias famílias, de diferentes classes sociais, optam por estas escolas por acreditarem que são boas. Ainda não aparece aqui o sistema de cotas pois as famílias podem optar por escolas particulares consideradas muito boas.

Quando se trata do ensino superior, o setor da sociedade que melhor esta economicamente, virá a exercer o direito a uma educação gratuita e de qualidade, pois o ensino na universidade publica é o melhor.

Onde está a solução? E necessário reestruturar ensino fundamental e o médio da escola pública; estes devem ser de qualidade: os melhores. Só assim teremos cidadãos de todas as classes sociais aptos para enfrentar qualquer processo seletivo em igualdade de condições. Nestas condições, o mérito do conhecimento poderá ser aplicado para todos. Isto sim e justo.

Mores Civitas - O individualismo contemporâneo associado à sociedade de consumo são fatores que favorecem a ética? Por quê?

Kathia - O consumismo ético é contrário ao individualismo; é um ato de amor pela humanidade. A ética na convivência humana, da mesma forma que se guia pelo que a pessoa tem, realiza, e é, deve priorizar o que poderá vir a ter, a realizar, e a ser.

Não é ético fazer algo bom para alguém prejudicando terceiros incluindo o meio ambiente. Quando ultrapassamos o limite da individualidade (meu desejo de consumir insaciável) e invadimos o coletivo (geração de lixo ambiental) afetamos o universo.

Consumir faz parte da sobrevivência do atual sistema. Não se trata de falar se isso e bom ou não, pois é sabido que é um sistema muito complexo, com pontos positivos e negativos. Não devemos esquecer de que graças ao consumo temos empresas, indústrias, fábricas, instituições e diferentes formas produtivas que empregam pessoas, famílias, sonhos, desejos, ideais e felicidade.

Por outro lado, o consumo exagerado, sem considerar as conseqüências disso, pode aumentar as desvantagens em relação às vantagens, no individuo, na sociedade, no planeta.

Você concorda? Leia e comente!

2 comentários:

Unknown disse...

prison break

Giovanna Fogaça disse...

MEDO!!!

by: Giovanna

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